Morre o Papa Francisco: um legado que moldou a Itália e tocou o mundo
O Vaticano amanheceu em silêncio nessa segunda-feira, 21 de abril de 2025, com a confirmação da morte de Sua Santidade, o Papa Francisco, aos 88 anos.
A notícia, oficializada pelo Cardeal Camerlengo Kevin Farrell às 09h47 (horário de Roma), percorreu o mundo com pesar, mas foi especialmente sentida na Itália — país que o viu exercer não apenas sua liderança religiosa, mas também sua influência moral, social e política por mais de uma década.
—
1. O Papa e a Itália: mais que fé, uma presença viva
Para além dos muros do Vaticano, Francisco sempre teve uma ligação intensa com o povo italiano. Embora o catolicismo esteja enraizado na cultura da Itália desde os tempos do Império Romano, foi com pontífices como ele que muitos italianos voltaram a olhar para a Igreja como um pilar de orientação moral num tempo de mudanças.
Durante seus mais de 10 anos de pontificado, Francisco impactou diretamente a realidade italiana, mesmo sem ocupar qualquer cargo no governo.
2. Mudanças concretas na Itália sob seu pontificado
- Francisco destacou-se por ser uma voz ativa durante a crise migratória europeia, principalmente entre 2015 e 2018. Sua visita à ilha de Lampedusa, onde celebrou missa em memória dos migrantes mortos no mar, foi um divisor de águas. Inspiradas por ele, instituições católicas Italianas criaram corredores humanitários que ajudaram milhares de refugiados a se assentarem legalmente na Itália, desafiando a postura mais rígida de certos setores políticos.
- Outro campo em que sua presença foi marcante foi o enfrentamento à máfia. Em diversas ocasiões, Francisco denunciou os crimes da 'Ndrangheta' e da 'Cosa Nostra', chegando a declarar publicamente que mafiosos estavam “excomungados”. Isso incentivou líderes católicos no sul da Itália a romper o silêncio e enfrentar a influência do crime organizado nas paróquias e comunidades.
- Internamente, o Papa reformou o episcopado italiano. Nomeou bispos com perfil mais pastoral e menos político, promovendo uma igreja mais próxima das pessoas comuns. Muitas dioceses passaram a investir mais em ações sociais, na escuta das periferias e no acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade.
- Ele também ampliou o papel das mulheres na Igreja. Ainda que a ordenação feminina não tenha avançado, Francisco nomeou diversas Italianas para cargos de destaque na cúria romana e incentivou dioceses a integrarem lideranças femininas em conselhos e decisões paroquiais — o que refletiu especialmente nas regiões do Norte e Centro da Itália.
- E, talvez onde tenha mais tocado os corações italianos, foi no diálogo com os jovens. Em um país onde o afastamento da fé crescia entre os mais novos, Francisco usou uma linguagem simples, promoveu grandes encontros e incentivou paróquias a abrirem espaço para cultura, música e debate. Isso gerou um movimento real de reaproximação da juventude à Igreja, especialmente em cidades como Milão, Roma e Turim.
3. A Itália que chora: como ele era visto pelos Italianos
Mesmo em tempos em que a religiosidade tradicional parecia perder força, Francisco mantinha um carisma quase unânime entre os italianos. Era visto como alguém "de casa", que falava a língua do povo, andava entre eles, e não se esquivava das dores do cotidiano.
Em suas visitas a cidades pequenas e regiões esquecidas, ganhava abraços, sorrisos e respeito. Não era raro ouvir por aqui frases como "Ele é um Papa de verdade" ou "Ele entende a nossa luta”. Sua popularidade, muitas vezes, superava a de líderes políticos — e sem precisar prometer nada além de empatia, oração e coragem.

4. Uma ausência que será sentida por gerações
Com sua morte, ocorrida às 07h35 na residência da Domus Sanctae Marthae, no Vaticano, a Itália se despede não só de um líder religioso, mas de uma figura que marcou uma era.
Igrejas já anunciaram missas em sua homenagem, enquanto autoridades preparam luto oficial e uma cerimônia solene que deve atrair chefes de Estado, representantes religiosos do mundo inteiro e, claro, uma multidão de italianos.
Mais do que um Papa, ele foi um guia moral numa época de incertezas. Seu legado seguirá vivo nos corredores do Vaticano, nas praças italianas e nos corações de quem acredita que fé e humanidade podem caminhar juntas.