Brasileiros na Itália: quem são, por que vão e qual é o cenário atual
Entre residentes, novos cidadãos e demandas legais, o fluxo de brasileiros à Itália revela mais que migração: é expressão de vínculo cultural e busca de oportunidades.
A expansão silenciosa: brasileiros vivendo oficialmente na Itália
Segundo dados recentes do ISTAT, o órgão oficial de estatística da Itália, há cerca de 51.918 brasileiros registrados como residentes no país — ou seja, cidadãos brasileiros que vivem legalmente como estrangeiros.
Esse número, embora não inclua aqueles que já obtiveram a cidadania italiana (e que deixam de ser contados como “brasileiros”), mostra a dimensão concreta do fluxo migratório.
O número também reflete desafios: muitos residentes vivem sob vistos de trabalho, estudo ou outros regimes temporários, até conseguirem regularização via cidadania ou contrato local.
Reconhecimentos de cidadania: o volume que impressiona
O dado mais recente que capta o interesse em cidadania é o fluxo anual de reconhecimentos. Em 2024, cerca de 68.841 brasileiros tiveram sua cidadania italiana reconhecida por via administrativa ou judicial.
Esse número não significa que todas essas pessoas migraram para a Itália, muitos fazem o processo ainda morando no Brasil, mas revela a intensidade da procura por dupla nacionalidade.
Esse volume expressivo de reconhecimentos corrobora que a cidadania por descendência (iure sanguinis) segue sendo o principal motor da migração simbólica ao país.
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Por que tantos brasileiros têm interesse em morar ou “ser italianos”?
1. Mobilidade europeia
Com o passaporte italiano em mãos, brasileiros ganham acesso livre ao espaço Schengen e podem trabalhar ou morar legalmente em outros países da UE. Essa vantagem sozinha atrai muitos que buscam novas oportunidades internacionais.
2. Mercado de trabalho
A Itália, embora com desafios econômicos próprios, ainda integra o mercado europeu. Muitas profissões e nichos (turismo, gastronomia, arquitetura, saúde) oferecem oportunidades para quem tem cidadania e disposição para se adaptar.
3. Laços culturais e familiares
Muito brasileiro com ascendência italiana carrega no sobrenome uma conexão com o país: visitas a parentes ou raízes que atravessam gerações criam um sentimento de pertencimento que motiva a mudança.
4. Pressão legal e expectativas
Com as reformas recentes nas leis de cidadania (Decreto-Lei 36/2025 e outras tentativas legislativas), muitos adiantaram seus pedidos com medo de restrições futuras. A incerteza legislativa impulsionou processos em massa nos últimos anos.
5. Escassez demográfica italiana
Estatísticas mostram declínio da população jovem italiana e envelhecimento. Isso abre espaço para estrangeiros qualificados preencherem lacunas em campos específicos, algo comentado em matérias internacionais que tratam de migração e demografia italiana.
O “estoque oculto”: brasileiros com dupla cidadania na Itália
Uma complexidade dos dados: uma vez reconhecida a cidadania italiana, o indivíduo deixa de ser registrado como “brasileiro estrangeiro” nos relatórios de migração formal. Ou seja, não aparecem nas estatísticas como “brasileiros residentes”.
Por isso, o número real de pessoas de origem brasileira vivendo na Itália (e já cidadãos italianos) é invisível nos recortes de estrangeiros.
Somando os residentes oficialmente registrados + o potencial de reconhecidos já ativos, pode-se estimar que dezenas de milhares de brasileiros com ascendência italiana vivam hoje em solo italiano, ainda que não haja uma fonte única consolidada que some esse total.
Cenário jurídico volátil: reformas, riscos e decisões judiciais
O ambiente legal italiano para cidadania vem passando por mudanças. Leis e decretos recentes têm tentado impor critérios como comprovação de vínculo territorial, prazos retroativos e limitações ao uso de testemunhas, o que gera incerteza para quem pretende fazer o pedido.
Mas há um contraponto importante: em 31 de julho de 2025, a Corte Constitucional da Itália, por meio da sentença 142/2025, reafirmou que a cidadania por descendência (iure sanguinis) é imprescritível. Essa decisão representa uma salvaguarda legal importante contra tentativas de restrições.
Embora não anule automaticamente leis futuras, a sentença oferece base jurídica sólida para contestar medidas que imponham retroatividade ou distinções arbitrárias.
Conclusão
A presença brasileira na Itália vai muito além de registros oficiais: ela se constrói na busca por identidade, mobilidade e oportunidade.
Enquanto cerca de 51 mil brasileiros constam como residentes estrangeiros, o fluxo de ≈ 68 mil reconhecimentos de cidadania só em 2024 mostra que milhares mais hoje têm ou buscam vínculo formal com a Itália.
Num cenário legal que evolui e oscila, o caminho da assessoria especializada se fortalece: quem entrega segurança, previsibilidade e autoridade ganha vantagem — especialmente nestes tempos incertos.
